26 fevereiro 2012

Luís de Camões Endechas à Bárbara Cativa


 Endechas à Bárbara Cativa (Escrava)
                                                                                                                           

Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.


21 janeiro 2012

Um Cafuné Mãezinha



Um cafuné mãezinha                                                                        
Um cafuné na minha carapinha
Mimos e carícias nos meus cabelos
Numa brincadeira de assim
Meu cabelo ruim
E teu cafuné a embalar meus pesadelos!

16 janeiro 2012

Angolares (poesia S. Tomense)


                                                                                         

Angolares (1)                                                                                      
Canoa frágil, à beira da praia,
panos preso na cintura,
uma vela a flutuar...
Caleima(2), mar em fora
canoa flutuando por sobre as procelas das águas,
lá vai o barquinho da fome.                                                                      
Rostos duros de angolares                                                                                          
na luta com o gandu(3)                                                          
por sobre a procela das ondas
remando, remando
no mar dos tubarões
p'la fome de cada dia.

15 dezembro 2011

Outras Quadras do Aleixo


Quadras do Aleixo 
                                                                      




O mundo só pode ser 
Melhor do que até aqui
Quando consigas fazer
Mais pelos outros que por ti.

António Aleixo - O Poeta

Quadras do Aleixo  




                           

Este livro que vos deixo
E que a minha alma ditou,
Vos dirá como o Aleixo
Viveu, sentiu e pensou.
          ****

12 novembro 2011

Miguel Gameiro

Dá-me um abraço  
                                                                      

Dá-me um abraço que seja forte
E me conforte a cada canto                                              
Não digas nada que o nada é tanto
E eu não me importo






05 novembro 2011

valter hugo mãe

o céu é aquela clareira                                                                                                                                                                          

o céu é aquela clareira
onde deito os olhos com ténues
cambiantes de cor que quase
gasto nas mãos, e como. como
o céu e aguardo uma
digestão convulsa. enquanto
o aguaceiro seca na terra antes que o
possa beber e deus se
vinga de mim ditando
os versos que escondem
a água ao mundo. já as
fogueiras florindo em volta,
murchando o dia que me
persegue. uma intervenção
divina para me resistir



Autor:
valter hugo mãe

01 novembro 2011

O Homem Que Veio da Sombra

de Luiz Gonzaga Pinheiro
                                                                                               
Adeus:
É quando o coração que parte deixa a metade com quem fica.


Amigo:
É alguém que fica para ajudar quando todo mundo se afasta.


Amor ao próximo:
É quando o estranho passa a ser o amigo que ainda não abraçamos.

19 outubro 2011

Viriato Cruz - Makèsú

Makèsú

- "Kuakié!... Makèzú..."
...............................................
O pregão da avó Ximinha
É mesmo como os seus panos
Já não tem a cor berrante
Que tinha nos outros anos.


Viriato Cruz - Namoro

Namoro



Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com a letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas.
sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seu seios laranjas - laranjas do Loge
seus dentes... - marfim...

   

18 outubro 2011

Malangatana - Amor Verde



Amor Verde

Porque o amor não é sempre verde
que bom quando verde é
nem quero que mudes de cor
ó amor verde, verde, verde
ele é tão bom, bom, bom


Na cama quando passei a primeira noite
senti-me feliz quando corria dentro dela
a lágrima que nos fez amigos infinitos
porque dela veio quem nos chama: Papá e Mamã
o nosso primeiro filho, tão lindo, lindo.
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08 outubro 2011

Testamento de Raul Indipwo

Testamento de Raul Indipwo                                                                     

A quem a saudade tiver cegado
Deixo os meus olhos tristes da distância                                      
Por todos estes anos afastado
Da terra céu e mar da minha infância                                



A quem o silêncio tenha ensurdecido
E não tenha escutado nunca o mar


Posso deixar o meu ouvido
Com Iemanjá e buzios a cantar


E a terra o meu corpo não engula
Para que não fique o marco de saudade                                    
Que me ponham numa pira de takula
E me queimem com acácias de verdade


Que Deus ao vento dê a minha alma
Para que ela em cada entardecer
Venha embalar com uma canção de calma
A terra amada que me viu nascer


(Raul Indipwo)

  

05 outubro 2011

Galinha d’Angola



Porquê a Galinha d’Angola tem pintas brancas?






Os mais antigos contam que esta história aconteceu durante uma das piores secas ocorridas nas savanas ao Sul da África.


O sol, inclemente, castigava todos os seres vivos: plantas e animais.




Alda Lara - Testamento


                                                                                               
À prostituta mais nova 
Do bairro mais velho e escuro, 
Deixo os meus brincos, lavrados 
Em cristal, límpido e puro...



E àquela virgem esquecida 
Rapariga sem ternura, 
Sonhando algures uma lenda, 
Deixo o meu vestido branco, 
O meu vestido de noiva, 
Todo tecido de renda...


Este meu rosário antigo 
Ofereço-o àquele amigo 
Que não acredita em Deus...


E os livros, rosários meus 
Das contas de outro sofrer, 
São para os homens humildes, 
Que nunca souberam ler.


Quanto aos meus poemas loucos, 
Esses, que são de dor 
Sincera e desordenada... 
Esses, que são de esperança, 
Desesperada mas firme, 
Deixo-os a ti, meu amor...


Para que, na paz da hora, 
Em que a minha alma venha 
Beijar de longe os teus olhos,


Vás por essa noite fora... 
Com passos feitos de lua, 
Oferecê-los às crianças 
Que encontrares em cada rua..


20 setembro 2011

ERNESTO LARA FILHO



 Caminhos de musseques 
Caminhos dos musseques
lá onde a areia entra pelos sapatos
daqueles que têm sapatos
lá onde o sol se filtra pelas fendas                                                          
pelos buracos dos pregos
dos tetos de zinco.



Caminhos antigos.
Caminhos antigos como o Mundo. 
A cidade empurrou os musseques
e o cacimbo caiu mais de mansinho
escondendo as figuras esguias
e os rostos de chumbo.

onde a esteira cobre o chão varrido todas as manhãs

onde a fuba substitui todas as claridades
lá 
onde a cerveja escorre pouco
porque não há dinheiro de comprar.
Caminhos antigos
onde a eletricidade começa a fazer circular
“idéias estrangeiras”
onde os motores dos carros
acordam as madrugadas das crianças
que antigamente ouviam passarinhos.
As fendas, os muros, os tetos
os buracos dos caminhos
esboroando-se no passado
alcatrão penetrando e desmentindo a mudança
cimento e cal erguendo os muros cinzentos das fábricas
saias lutando contra os panos das velhas
telefone até.
Nas almas... um grande vazio
preenchido pelos merengues que vêm de fora.
Lá – caminhos da vida
Lá no mato. Lá no campo. Lá na floresta. Lá no estrangeiro.
Lá onde se nasce, vive e morre todos os dias
com kambaritókué ou sem ele
com um lençol simples ou uma vala comum
morrendo apenas é que tudo acaba.
A vida tem de ser dignamente vivida.
Vamos juntar as nossas cobardias
os nossos sofrimentos
as nossas ansiedades
nossas angústias
nossos sorrisos
nossos sarcasmos
a nossa coragem
nossas vidas.
Vamos
Lá – no musseque – areais vermelhos
onde passam os caminhos da vida
e vamos
dizer
corajosamente
às crianças que esperam o nosso exemplo
que este quintal
tem de ser estrumado com sangue
adubado de sofrimento
cultivado com as dores
mangueiras
anoneiras
gindungueiros
frutificando ao sol e ao luar
para quê dizer mais versos
que só o povo entende?
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O canto do Matrindinde
O canto do Matrindinde
é um canto da cidade
vem pela noite dentro
cheio de ambiguidade


O canto do Martrindinde
é um cantar nacional
veio do mato à cidade
e tornou-se universal.


Ernesto Lara Filho (Angola)

Alda Lara - Preludio


Pela estrada desce a noite…                                          
Mãe-Negra, desce com ela...                                                                         

Nem buganvílias vermelhas, 
nem vestidinhos de folhos, 
nem brincadeiras de guisos, 
nas suas mãos apertadas.                                


Só duas lágrimas grossas, 
em duas faces cansadas.

Mãe-Negra tem voz de vento, 
voz de silêncio batendo 
nas folhas do cajueiro...

Tem voz de noite, descendo, 
de mansinho, pela estrada...

Que é feito desses meninos 
que gostava de embalar?...

Que é feito desses meninos  
que ela ajudou a criar?...

Quem ouve agora as histórias 
que costumava contar?...

Mãe-Negra não sabe nada...

Mas ai de quem sabe tudo, 
como eu sei tudo 
Mãe-Negra!...

Os teus meninos cresceram, 
e esqueceram as histórias 
que costumavas contar...

Muitos partiram p'ra longe, 
quem sabe se hão-de voltar!...

Só tu ficaste esperando, 
mãos cruzadas no regaço, 
bem quieta bem calada.

É a tua a voz deste vento, 
desta saudade descendo, 
de mansinho pela estrada…

Alda Lara - Poetisa Angolana


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Trago os olhos naufragados
em poentes cor de sangue...

Trago os braços embrulhados
numa palma bela e dura
e nos lábios a secura
dos anseios retalhados...


Enrolada nos quadris
cobras mansas que não mordem
tecem serenos abraços...

E nas mãos, presas com fitas
azagaias de brinquedo
vão-se fazendo em pedaços...

Só nos olhos naufragados
estes poentes de sangue...

Só na carne rija e quente,
este desejo de vida!...
Donde venho, ninguém sabe
e nem eu sei...

Para onde vou
diz a lei
tatuada no meu corpo...

E quando os pés abram sendas
e os braços se risquem cruzes,
quando nos olhos parados
que trazem naufragados
se entornarem novas luzes...

Ah! Quem souber,
há-de ver
que eu trago a lei
no meu corpo...

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Os gritos perderam-se sem encontrar eco. 
Os punhos cerrados e os ódios calados 
Dividiram os Homens,
que se não reconheceram mais...

Mas as lágrimas cavaram sulcos fundos
nos olhos vazios de esperança,
e os sulcos não se apagaram...

29 agosto 2011

Neves e Sousa - Poema Angolano

             **Angolano**

Ser angolano é meu fado e meu castigo                                      
Branco eu sou e pois já não consigo
Mudar jamais de cor e condição
Mas, será que tem cor o coração?
Ser africano não é questão de cor
É sentimento, vocação, talvez amor.
Não é questão, nem mesmo de bandeiras,
De língua, de costumes ou maneiras...
A questão é de dentro, é sentimento
E nas parecenças doutras terras,
Longe das disputas e das guerras
Encontro na distância esquecimento.

Crepúsculos - "Sunsets"

Angola Terra Linda... No Miramar !

Sol di Manhã - Ritinha Lobo

Waldemar Bastos - N´duva (Na Morte da Cantora)

A Bela Ilha da Madeira - Pérola do Atlântico

Subindo o Rio Douro - Portugal

Tabanka Djaz - Nha Corçon ... tradução PT

Waldemar Bastos - Por do Sol

Luanda Moderna - Serenata a Luanda - Eleutério Sanches