o céu é aquela clareira o céu é aquela clareira onde deito os olhos com ténues cambiantes de cor que quase gasto nas mãos, e como. como o céu e aguardo uma digestão convulsa. enquanto o aguaceiro seca na terra antes que o possa beber e deus se vinga de mim ditando os versos que escondem a água ao mundo. já as fogueiras florindo em volta, murchando o dia que me persegue. uma intervenção divina para me resistir
- "Kuakié!... Makèzú..." ............................................... O pregão da avó Ximinha É mesmo como os seus panos Já não tem a cor berrante Que tinha nos outros anos.
Mandei-lhe uma carta em papel perfumado e com a letra bonita eu disse ela tinha um sorrir luminoso tão quente e gaiato como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas espalhando diamantes na fímbria do mar e dando calor ao sumo das mangas. sua pele macia - era sumaúma... Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas tão rijo e tão doce - como o maboque... Seu seios laranjas - laranjas do Loge seus dentes... - marfim...
Testamento de Raul Indipwo A quem a saudade tiver cegado Deixo os meus olhos tristes da distância Por todos estes anos afastado Da terra céu e mar da minha infância
A quem o silêncio tenha ensurdecido E não tenha escutado nunca o mar
Posso deixar o meu ouvido Com Iemanjá e buzios a cantar
E a terra o meu corpo não engula Para que não fique o marco de saudade Que me ponham numa pira de takula E me queimem com acácias de verdade
Que Deus ao vento dê a minha alma Para que ela em cada entardecer Venha embalar com uma canção de calma A terra amada que me viu nascer
À prostituta mais nova Do bairro mais velho e escuro, Deixo os meus brincos, lavrados Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida Rapariga sem ternura, Sonhando algures uma lenda, Deixo o meu vestido branco, O meu vestido de noiva, Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo Ofereço-o àquele amigo Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus Das contas de outro sofrer, São para os homens humildes, Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos, Esses, que são de dor Sincera e desordenada... Esses, que são de esperança, Desesperada mas firme, Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora, Em que a minha alma venha Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora... Com passos feitos de lua, Oferecê-los às crianças Que encontrares em cada rua..